sexta-feira, março 25, 2005
      
Circo sem pão


             O lema do homem moderno é a velocidade e o dos miseráveis, qual é? Uma refeição completa para muitos destes é sinônimo de luxo. Diante dessa dicotomia social se apresentam as incoerências do dever ético estatal. Não seria o Estado responsável por uma tal de ordem e progresso?
             Paradoxalmente ao teórico, o Estado nutre-se de sua própria anemia. Ou seja, a funcionalidade dele acontece pela exploração das mãos-de-obra mal remuneradas e pela concentração de poder da minoria que o guia de acordo com seus interesses. E o que ocorre é o fato dos interesses dessa minoria serem baseados na ganância, na hipocrisia e no descaso com os que mais necessitam de auxílio. Assim, a fome se torna conseqüência lógica desse processo em que a ética é sobreposta pelo parasitismo social.
             Enquanto milhões são investidos em turismo, vias pouco úteis e analisadas, "marketings eleitoreiros", pouco se é destinado em prol dos famintos da seca nordestina, dos moradores de rua, das barrigas d'água, da penúria. Nem ao menos se é priorizada a questão educacional cuja sua melhoria e estruturação aniquilaria boa parte dos contrastes e dificuldades de se alcançar o direito à dignidade. Direito que deveria ser dado a todos, mas só é priorizado àqueles que possuem alguma base cultural ou econômica.
             Por esses traços escrevem-se todos os dias novos óbitos pela fome. Severinos são exterminados por "Maurícios" vampirizados pela ambição. Assim, até que haja tanta má distribuição de renda, falta de mobilização social, e enquanto toda verba estatal for respaldar aquilo que serve para poucos, sempre haverá pratos vazios. E os mortos pela falta de acesso à comida continuarão a ser mera estatística.